quinta-feira, 31 de março de 2011

( )

o teu me atormenta
o teu me faz tornar indiferente, mediocre
o teu me ganha, me atinge, me põe de quatro
o teu laça meu amor, meu ódio
o teu é dilacerante, me parte em dois
o teu misterioriza tua imagem
o teu esconde teu olhar
o teu esconde a tua fraqueza
o teu me dá poder
o teu só machuca e esconde

o teu silencio é o teu discurso para minha morte.
o meu ruido é minha ressureição

quarta-feira, 30 de março de 2011

lombar

matei uma lagartixa.
não jantei.
acordei com medo da minha cama, logo, com medo de mim.
meu chuveiro e minha pia combinaram de se engraçar.
fumei apenas dois cigarros hoje.
mais uma vez sofri por amor.
deixei de sofrer porque deixei de querer, e de não querer, portanto sofri, portanto quis.
tive medo do amanha.
estou com medo de dormir.
ainda tenho cama.
não tenho mais lagartixa.
não tenho fome.
tenho xarope pra tosse.
na verdade fumei três cigarros hoje.
amanhã meu chuveiro e minha pia vão acordar de luto...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vá pra VIDA que os pariu!

Universo paralelo, transcendência, sobrenatural. Tivemos que criar termos para exprimir a angústia do desconhecido. E, inconsientemente, depositamos todos esses (in)significados da vida, regurgitados, em recipientes linguísticos vazios os quais, por um processo de reificação, enterramos a sete pés.
Tivemos que cortar o cordão umbilical, através de um instrumento chamado medo, que nos liga a nossa alma. Alma esta que, paradoxalmente, não pesa e pesa, invisível e negra, de seda e espinhosa. Alma esta é o amor.
Para anestesiarmo-nos tivemos que criar o conceito de amor sem ódio, de felicidade sem tristeza, de sentir sem sentir. Com esses novos conceitos, cercamo-nos em fortalezas morais. E, com o que repugnamos experimentar, escondemos no campo da fé.
Oh, mas por que sofremos tanto mesmo assim? Não nos basta viver em paz?
Sofremos porque sentimos, sentimos porque vivemos e vivemos porque amamos.
Deixemos que a dor nos ataque, que o sofrimento nos perfure, que a sensibilidade nos convença, que o medo não nos ganhe e que o amor nos tome conta. Assim, "almados", viveremos o mundo cru(el), desnudo e atemporal.