sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Amor [3]

suave coisa nenhuma, seco ou molhado...

domingo, 4 de setembro de 2011

desremendo

A vida é aquele pequeno orifício em que deixamos escapar um bocado de loucura.

Amor [2]

um pingo gelado de um líquido cristalino que pousa na pele quente e logo depois a perfura entrando em contato com o nervo mais sensível do corpo.
no primeiro momento, arrepio e prazer
no segundo, dor e angústia.
Este pingo é uma lágrima de mercúrio. Essa lágrima é o amor.

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Amor [3]

Tremores, dores, febres, insônias.
Doutor, estaria eu doente ou apaixonado?

Não se vê por aqui.

Essa sociedade era repentinamente particular.
Havia divisão de trabalho sim. Seus individuos, porém, incompreensivelmente, possuiam uma espécie de instinto distinto. Era como se sua função no mundo viesse através de seus próprios desejos. Como explicar isso?
Não sei. Desejos. Nada relacionados à necessidades de alimentação, reprodução. Me parecia que possuiam uma certa magia de livre arbítrio. Sem determinismos. Imagina! Como obter tais capacidades?
Direcionar ações aquém da sobrevivência como se houvessem outra opção. Seres insanos estes!
Caos, confusão, loucura!
Coitados, não gostaria de estar na pele deles!

E então, a abelha operária subitamente acorda do transe e, com enxaqueca, volta ao trabalho na colméia.

sábado, 3 de setembro de 2011

Memória

Uma das maiores cobranças humanas, entretanto mais dolorosa.
E nessa disputa quem ganha é o esquecimento.
Árdua batalha entre o passado e o presente.
E quem ganha? O presente.
E assim entramos no Eterno Retorno de Nietzsche.
Repetimos como se nada aprendessemos.
Não aprendemos com a História, aprendemos com o Erro. Afinal, quem não quer errar? Quem não quer experenciar o erro?
Não me venha com a história de se precaver. No ápice de nossas ações, o que menos prevalece é o passado. Viramos criança botando o dedo na tomada.
Memória, tu precisa de mais força. Sem ela, loucos seríamos. Inconsequentes corpos jogados no mundo esperando uma punhalada no rosto. E, ao vermos nosso próprio sangue escorrendo, aí sim pensamos na morte.
Ó, mas precisamos do sangue! Precisamos!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Amor

É interessante observar o esforço do ser humano em definir o indefinível. De tornar visível o invisível. De objetivar um sentimento.
Não condeno isso. A dúvida é insustentável. A incerteza nos dá insegurança. O abstrato nos angustia. Porém, existem infinitas maneiras de definir algo.
Uma delas é instituí-lo racionalmente como verdade ao mesmo tempo condenando outras possibilidades como mentiras.
Não existe maneira mais fácil - portanto confortante - do que criar sistemas binários. Mentira OU verdade, certo OU errado, isso OU não-isso. Neste processo acabamos por reduzir o universo. Ficamos com o hábito, descartamos o "não-hábito"; ficamos com a realidade e descartamos a fantasia; ficamos com o mundo e descartamos o não-mundo?!
Quando trato de sentimentos, amor, prefiro usar um termo diferente. Não defino ele, e sim dou sentido. Sentido porque é algo que se sente. É algo que se manifesta através de sensibilidade. Através de olhares, cheiros, sabores, sons, toques. Percebam que citei nossos cinco sentidos. Elementos, ou melhor, alimentos da vida. Prazer. Não da vida que se opõe a morte. Não do prazer que se opõe ao desprazer ou do amor que se opõe ao ódio. Repito: sem sistemas binários. Eles reduzem. O sentimento sobretudo é potencializante. Ele sim, torna visível o invisível. E o principal, ele só se difunde, materializa-se no contato entre corpos.
Aí vem a questão: como se difunde amor sem contato direto entre corpos? Como compartilhamos simbolicamente algo que é tão abstrato e tão individual?
Por mais que a Palavra não esteja entre os cinco sentidos, ela é uma excelente ferramenta para dar sentido à sentimentos. Palavra não somente escrita, como qualquer meio de comunicação que o ser-humano desenvolveu.
Não simplesmente escrever Amor em uma folha de papel fará alguém amar. Mas sim, palavra acompanhada de performance. A palavra acompanhada da não-palavra.
Uma carta de amor, uma imagem propositiva, um romance, uma melodia, uma lágrima. Um quê de improvável, de surpresa, de imprevisível, e por que não de loucura?
Trazer a tona um desconhecido para fazer parte, dar bom dia, ao nosso pequeno mundo. Sua recepção não será apenas racional. A desrazão tambem será convidada, através da sensibilidade.

Este texto não tem como funçao transmitir um conteúdo, uma informação. É apenas uma expressão potencializadora de qualquer sentido. Como uma poesia. Como um sonho...
Amo vocês. Muito obrigado

Desconferências, 31 de agosto de 2011.

livros

Existem livros que possuo e não os abro mão de sua matéria.
Existem livros que possuo porém já estão projetados dentro de mim.
Existem livros que não possuo e gostaria de tê-los em minha estante.
Existem livros que não existem, não estão em minhas estantes, não tenho cobiça em tê-los. São estes que desejo materializa-los, torna-los reais a partir do irreal. E passá-los adiante.