quinta-feira, 8 de novembro de 2012
me espera
liberdade violenta
em vez de apenas esperar
prefiro desesperar
e desesperando atropelo a espera
sugo o que dela é um presente
e depois espero um próximo desespero
sem desesperança, sem paciência inclusive!
pois uma hora ou outra, sem que possamos ter controle
o paciente será chamado da sala de espera
esperando impacientemente
que será salvo de seu desespero
dando-se conta por final
que o desesperado é aquele quem espera demais
e o inesperado é o que acontece com quem, pacientemente, esquece de esperar
e segue respirando distraído.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Paradoxos
interessante como o tempo linear que categorizamos está repleto de paradoxos.
isso me faz questionar a existência de possíveis outras noções.
a primeira vez, nessa lógica, se põe anterior a última vez.
porém, quando estamos aqui vivendo um presente, ao nos referirmos a última vez, eventualmente ela se materializa enquanto uma experiência passada. "a última vez que fui até lá, o último livro que li, minha última experiência". Difícil assumirmos a responsabilidade - dentro de nós - de evocar que algo futuro será a última vez.
a primeira vez já é uma expressão que nos exige mais cautela.
o desejo pelo mistério. se ele não houvesse, castrados seríamos. a tendência é transcender as certezas. buscar o desconhecido, o prazer do criar. superar o passado.
a cada instante nos deparamos com a primeira vez. o desejo pelo mistério nos mete medo. criamos hábitos para evitar o contato com a primeira vez. mas ao mesmo tempo é da primeira vez que conservamos as memórias mais marcantes. traumas? o novo nos vem sempre como desconforto, porém somos obsessivos para alcançá-lo
velhice...
um universo que se constrói a cada passo
o corpo envelhece engolindo novidades
não seria mais lógico nos tornarmos cada vez mais jovens?
sim, nos tornamos velhos pois o novo nos cansa
o novo nos desconserta, nos bate de frente
a todo momento somos levados a requestionar o que passou
ideal seria não questionar
assumir que o que passou é aquilo do mesmo que continuará passando
o ideal é mesmo envelhecer
e viver do que é passado
pra que mais desafios? pra que mais angustias? pra que continuarmos a ter medo do mistério?
melhor mesmo é se nunca evoluíssemos. se a tendência é envelhecer, que aceitemos.
envelhecemos até não nos restar nada além de poeira mansa, pousada sobre o solo, inerte.
a primeira vez, já foi a primeira e ponto. que eu não tenha que passar por ela denovo.
já não escolhi estar aqui, terei eu que escolher que caminhos que devo seguir?
esquece, já me esforcei a criar meus hábitos, me deixem com eles.
que sentido faz mudá-los? que burrice desfazê-los!
se a primeira vez dá tanto medo, que ela seja a última!
terça-feira, 31 de julho de 2012
desculpe-me - invente-se
Assim vamos crescendo sendo puxados por forças que se contradizem
Querendo se mover, mas ao mesmo tempo ficar parados
Tentando achar sentido praquilo que não tem
E, nesse jogo, no final das contas, vivemos a procura de inventar desculpas que justifiquem nossos atos sem sentido.
Desculpas que nos afastam do medo de nós mesmos.
Constituímos famílias para fugir de nossa própria família.
Criamos planos mirabolantes de futuro para fugir de nossa própria certeza de que nenhuma ocupação nos satisfaz por completo.
E assim nos relacionamos a fim de buscar uma completude que não existe.
Afinal de contas, somos seres incompletos por natureza em busca de uma identidade que nos mantenha felizes e seguros.
Outra desculpa inventada por nós.
Nossa mente inventa.
Somos seres inventores. E que bom!
Que bom que nossa mente é capaz de inventar, de desenvolver paliativos à essa síndrome do ser incompleto.
O problema é que cada vez mais somos impelidos pelo mundo de inventar.
O mundo prefere que não tenhamos dores (apenas culpas) à aliviá-las através de invenções.
Assim criam instituições punitivas pra quem inventa demais, ou simplesmente barreiras sociais que nos dificultam ter tempo e espaço para inventar.
Fazem isso da pior forma, cutucando nossa pior fraqueza: A tendência ao conforto,
que nada mais é do que um falso conforto.
Um conforto vendido por quem quer se manter donos de tudo, inclusive de nossas mentes.
E assim, nos eliminam as forças que nos puxam, tanto a angústia do fracasso quanto a própria virtude.
Seguimos contribuindo para um mundo senil como se não houvesse outra alternativa.
A própria invenção vira um produto de consumo.
Compramos invenções e nos tornamos passivos à elas.
Compramos um romance, lemos e seguimos adiante;
Compramos tickets de cinema, assistimos e seguimos adiante;
Compramos uma excursão, viajamos e seguimos adiante.
E a única invenção que ainda somos sujeitos é a invenção de desculpas que justifiquem nossos atos sem sentido e nossas decisões de vida medíocre.
Essas se mantém.
o que me resta
os copos de leite se deleitam,
e eu aqui, me humanizando...
terça-feira, 17 de julho de 2012
Gozo venenoso
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Catarte
quinta-feira, 24 de maio de 2012
mantenha-mos matéria morta
quer dizer que Maria deu a luz virgem?
que Gaia deu a luz Urano?
que Alfheim era repouso de elfos luminosos?
que Nun é o ser subjetivo e Atum o ser objetivo?
que Ganesha destruiu os obstáculos?
que Xi Wangmu detém o segredo da vida eterna e a entrada para o paraíso?
que o homem chegou a lua?
não diga isso, seu Einstein, a fantasia nos atordoa. mantenha-nos sedados. mantenha-nos defuntos. mantenha-nos matéria morta.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Surto
nóna artéria - enforcado nas próprias tripas. chicotes na coluna. Luna
preso & escuro. go-go-gole de citronela. ar sólido rarefeito dos pulmões. Pulsões.. Repuxos... Repulsões....
engRenagens desRegradas. GraNadas. NADAS. tapas - solitude. TUDO. tudo Ou nada.
nademos - tuDemos. Demônios ardentes. dentes, muitos dentes. contunDentes.. .. .. Catacumbas.
tuBAs. TU VAIS - ancestrais. NUNCA MAIS. NUNCA! nuca-quebrada. Fratura // Fartura
Farto. FurtaCor. Furto surdo
surdo e SSSSurto; SSSigo SSSurtando; perSSSigo e perSSSisto --- Como alma de ninguém no alMoço. MOÇO! ME AJUDA MOÇO! massa senil a luz de quem partiu
Parto Prematuro. Me atiro e S-U-M-O
sUPRAssUMO. Presumo: arroios, comboios, sonhos, sonhos, sonhos e sonhos. PESados PESadelos.
Duelos Doentes aDeus.
Estou doente.
Velhitude
Se sentiu um cavalo. Cavalo de carga. Chega! Pegou suas coisas e saiu. Volta na quadra. Fuma um cigarro. Não fumava. Mas fumou, até o fim. Clima de transgressão. Chegou em casa e acendeu uma vela. Se lavou, foi dormir.
Noite pesada, sonhou como nunca havia. Perdeu sua hora. Não ligou. Acordou e retornou a rua.
Na calçada, se sentiu perseguido por um assobio que cantarolava música popular. Esta canção ficou tão aquecida na sua memória que, semana seguinte, Marcos resolveu ser jovem pra sempre.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Foto-Grafia
de repente movimento
infinitos pigmentos
como se cada qual deles momento
grafia da luz marca um susto, paralisa um acontecimento
algo digno de ser recordado, algo que se não captado saudade
um brecar o tempo. ou talvez expandí-lo
construção de memória, fábrica de devaneios detalhes
silabas em olhares, melodias em cores expressão
colágeno contraste impressos em superfícies
buracos-negro em bloco
suspenso um mundo inteiro em suas mãos agulhas
fosco pinturas palavras em desenho
moléculas a olho nu, prisma abrupto
acompanhando gerações alma mergulhada em papel limão
foco frio, grafina fia, grafo fita fotografia
mensura fantasia, registra vida, revela poesia
fotografia
terça-feira, 10 de abril de 2012
Dois
terça-feira, 3 de abril de 2012
Constância
terça-feira, 27 de março de 2012
Meu caro amigo P.
Meu caro amigo P.
Isoppo 02.03.2012
reflexões escorridas
estou passando por uma fase de muitas quebras de paradigmas, muitas desconstruções sobre o mundo e as suas relações. prefiro expressa-las em literatura, poesia, não sou muito teórico metodologico epistemico nas minhas ideias, mas vou tentar. primeiro de tudo, nunca levem isso como auto-ajuda, cada um tem o seu jeito de seguir a vida e a sua verdade.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?"
Somos sozinhos, vamos morrer, mas não conseguimos acreditar nisso. Eu resolvi tentar encarar esse fato, um dos grandes desafios de minha jornada, andar de mãos dadas com a morte e com a solidão. Não, isso não é uma metáfora pra me trancar num quarto e deixar de comer. É simplesmente aceitar a presença delas. Nessa atitude, vi que possuia a liberdade de sonhar e correr atrás de meus sonhos, sem o suficiente medo que me impedisse. Não digo que é um caminho confortante, sem dores, sofrimentos e responsabilidades. Talvez seja o mais sofrido. Mas por incrivel que pareça, nunca me senti tão vivo e tão compartilhando com o mundo. Refleti que a maneira mais eficaz de se sentir vivo e coletivo é aceitando a morte e a solidão.
São nessas experiencias-limite tambem que me sinto mais sensivel e mais inspirado para fazer o que eu mais amo, escrever. São nesses momentos que vejo o mundo muito maior com muito mais cor, mais amor, mais caminhos, mais permissível, mais sentidos. Se assumimos a solidão, alem de autonomia, temos mais responsabilidades afetivas com nós mesmos e com o mundo. e, com a arte - nao só como ferramenta como tambem espiritualmente - posso compartilhar e proporcionar trocas com o outro que transcendem a morte do corpo. Essa para mim é a verdadeira eternidade, o verdadeiro legado. não é sobreviver até os 120, mas eternizar, transcender em mensagens enérgicas e inspirantes. Platão continua sendo ressucitado por suas mensagens ha 2350 anos e continua vivissimo em nossas prateleiras, só citando um exemplo.
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terça-feira, 20 de março de 2012
passos cordiais / pontos cardiais
segunda-feira, 19 de março de 2012
febre
quinta-feira, 8 de março de 2012
Entre
árvores pulsam vida à quem sente sua vida nelas
à quem percebe sua vida fora do corpo
no entre-corpos
a matéria existe como ferramenta apenas ao fluxo de vida que circula e permite sua existência
as moléculas se atraem e repelem diante essa força e energia que se propaga entre seus corpos
e assim somos nós entre nós e outras matérias
neste momento sinto a vida da árvore pois ao olhá-la, sentí-la, me sinto vivo.
e o gramado que pouso
e a água da fonte que escuto
e se uma folha seca desta mesma árvore se destaca e pousa sobre mim, morta ela não está
e se carrego um cadáver, morto ele não se encontra
morto - apenas - estão aquilo que não optei viver
aquilo que optei não viver
aquilo que deixei de.
neste caso sou-estou morto
morto nos lugares que não fui
nas matérias que não senti
naquilo que não produzi memória alguma
agora, nesse instante, posso ser aquela árvore, o gramado e a fonte
inclusive a folha seca
inclusive o inseto que me mordeu, pois dei vida a ele
do que me serve pensar, cavocar, naquilo que deixei pra trás e não vivi?
nesse instante, apenas neste, posso ser, viver, dar vida à tudo que agora me permeia
já não é o bastante?
continuo ouvindo a fonte e, mesmo quando partir, mesmo quando não puder mais ouví-la
a fonte continuará viva
pela minha lembrança do seu ruido
lá sei eu da fonte de outro lugar! não importa.
agora sou fonte e pra sempre serei,
fonte desse lugar
e minha vida sempre estará entre meu corpo e ela
entre meu corpo e a árvore que pulsa.
quarta-feira, 7 de março de 2012
brotando astros
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
asas que coçam
no dia em que vim me embora
No Dia Em Que Eu Vim-me Embora
Caetano Veloso
No dia em que eu vim-me embora
Minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui
E eu nem olhava pra trás
No dia que eu vim-me embora
Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha vó já quase morta
Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua
E até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho
Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo
Nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada
Fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital