sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Amor

É interessante observar o esforço do ser humano em definir o indefinível. De tornar visível o invisível. De objetivar um sentimento.
Não condeno isso. A dúvida é insustentável. A incerteza nos dá insegurança. O abstrato nos angustia. Porém, existem infinitas maneiras de definir algo.
Uma delas é instituí-lo racionalmente como verdade ao mesmo tempo condenando outras possibilidades como mentiras.
Não existe maneira mais fácil - portanto confortante - do que criar sistemas binários. Mentira OU verdade, certo OU errado, isso OU não-isso. Neste processo acabamos por reduzir o universo. Ficamos com o hábito, descartamos o "não-hábito"; ficamos com a realidade e descartamos a fantasia; ficamos com o mundo e descartamos o não-mundo?!
Quando trato de sentimentos, amor, prefiro usar um termo diferente. Não defino ele, e sim dou sentido. Sentido porque é algo que se sente. É algo que se manifesta através de sensibilidade. Através de olhares, cheiros, sabores, sons, toques. Percebam que citei nossos cinco sentidos. Elementos, ou melhor, alimentos da vida. Prazer. Não da vida que se opõe a morte. Não do prazer que se opõe ao desprazer ou do amor que se opõe ao ódio. Repito: sem sistemas binários. Eles reduzem. O sentimento sobretudo é potencializante. Ele sim, torna visível o invisível. E o principal, ele só se difunde, materializa-se no contato entre corpos.
Aí vem a questão: como se difunde amor sem contato direto entre corpos? Como compartilhamos simbolicamente algo que é tão abstrato e tão individual?
Por mais que a Palavra não esteja entre os cinco sentidos, ela é uma excelente ferramenta para dar sentido à sentimentos. Palavra não somente escrita, como qualquer meio de comunicação que o ser-humano desenvolveu.
Não simplesmente escrever Amor em uma folha de papel fará alguém amar. Mas sim, palavra acompanhada de performance. A palavra acompanhada da não-palavra.
Uma carta de amor, uma imagem propositiva, um romance, uma melodia, uma lágrima. Um quê de improvável, de surpresa, de imprevisível, e por que não de loucura?
Trazer a tona um desconhecido para fazer parte, dar bom dia, ao nosso pequeno mundo. Sua recepção não será apenas racional. A desrazão tambem será convidada, através da sensibilidade.

Este texto não tem como funçao transmitir um conteúdo, uma informação. É apenas uma expressão potencializadora de qualquer sentido. Como uma poesia. Como um sonho...
Amo vocês. Muito obrigado

Desconferências, 31 de agosto de 2011.

Um comentário:

  1. Taê o texto da Desconferência.
    Cara, ficou muito legal. Tu tocou num ponto de filosofia contemporânea que é um avanço enorme.

    A diferença entre sentido e referência. O sentido da palavra amor pode ser "Afecção causada por um objeto de desejo, blá, blá, blá", mas se um ET que viesse de um lugar onde as pessoas não amam, chegasse nesse mundo e quisesse comprender o que é o amor, se ele fosse capaz de ler a definição, ele nunca ia saber o que é. É algo como o vermelho. Tem que ter olhos e sangue nas veias para 'saber' o que é o vermelho.

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