quinta-feira, 8 de março de 2012

Entre

Árvores pulsam vida independente dos ventos. independente dos tempos
árvores pulsam vida à quem sente sua vida nelas
à quem percebe sua vida fora do corpo
no entre-corpos

a matéria existe como ferramenta apenas ao fluxo de vida que circula e permite sua existência
as moléculas se atraem e repelem diante essa força e energia que se propaga entre seus corpos
e assim somos nós entre nós e outras matérias

neste momento sinto a vida da árvore pois ao olhá-la, sentí-la, me sinto vivo.
e o gramado que pouso
e a água da fonte que escuto
e se uma folha seca desta mesma árvore se destaca e pousa sobre mim, morta ela não está
e se carrego um cadáver, morto ele não se encontra

morto - apenas - estão aquilo que não optei viver
aquilo que optei não viver
aquilo que deixei de.
neste caso sou-estou morto
morto nos lugares que não fui
nas matérias que não senti
naquilo que não produzi memória alguma

agora, nesse instante, posso ser aquela árvore, o gramado e a fonte
inclusive a folha seca
inclusive o inseto que me mordeu, pois dei vida a ele

do que me serve pensar, cavocar, naquilo que deixei pra trás e não vivi?
nesse instante, apenas neste, posso ser, viver, dar vida à tudo que agora me permeia
já não é o bastante?

continuo ouvindo a fonte e, mesmo quando partir, mesmo quando não puder mais ouví-la
a fonte continuará viva
pela minha lembrança do seu ruido
lá sei eu da fonte de outro lugar! não importa.
agora sou fonte e pra sempre serei,
fonte desse lugar
e minha vida sempre estará entre meu corpo e ela

entre meu corpo e a árvore que pulsa.

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